Esqueça tudo o que você já viu sobre isso. Que a Uber anunciou o fim do serviço Uber Eats no Brasil você já sabe. Mas os motivos por trás dessa decisão são mais profundos do que você pensa.
Segundo a companhia, trata-se de uma mudança estratégia para passar a focar na perderia com a Conershop, no Uber Direct e no Uber Flash. No entanto…
Apesar da justificativa da Uber, foram levantadas diversas dúvidas acerca de decisão. Afinal, uma coisa que nem todo mundo sabe é que a maior parte do dinheiro da companhia vem do Uber Eats. Veja como o negócio faz dinheiro:
O que o gráfico não fala? 🤔
O lucro. A Uber fechou o 3º trimestre de 2021 com lucro operacional pela primeira vez em seus 11 anos de história, o que foi possível graças ao aumento da demanda por corridas e pelo Uber Eats. Em outras palavras, a companhia não possui um histórico lucrativo.
Mesmo com o resultado apresentado, o mercado de entregas de comida possui diversos problemas e dificuldades que não são tão óbvios à primeira vista. Lembre-se: muitas coisas não são tão boas quanto parecem.
- Por mais que a novidade tenha sido impactante por aqui, vale destacar que o Brasil não foi o primeiro nem o único país onde a Uber tomou tal decisão. A companhia já havia encerrado sua operação de delivery em diversos países, no ano passado.
Mas, antes de entrar nos motivos dessa decisão (principalmente no Brasil), é preciso ter noção de alguns acontecimentos recentes…
A luta dos entregadores por mais direitos 🛵
No meio de 2021, diversos entregadores de aplicativos de delivery realizaram uma série de manifestações, reivindicando melhores condições de trabalho.
- Essas greves contribuiram para a criação de projetos de lei (PL) para entregadores de aplicativos — que defendem desde a vinculação dos trabalhadores às empresas até a criação de espaços para descanso e fornecimento de equipamentos de segurança.
A partir de então, a pressão foi só aumentando, até que, no final de 2021, foi aprovado um outro PL, prevendo comida e água para entregadores de apps, além de um seguro contra acidentes e afastamento por contaminação de COVID-19.
Na semana passada, Bolsonaro sancionou o projeto, que será válido durante a pandemia — um dia antes da Uber anunciar a mudança. Será que teve a ver?
Bom pra uns, pra outros nem tanto 😕
Se, por um lado, os motoristas de aplicativo passaram a ter direitos que antes não tinham, por outro, as empresas de delivery não devem ter gostado tanto da medida. O motivo?
Custos operacionais. A decisão faz com que seja necessário aumentar os gastos com a operação. Juntamente a isso, o setor de entrega de alimentos, embora movimente muito dinheiro, proporciona margens pequenas para os negócios do segmento.
Mas não é só repassar o aumento de custos para os clientes? Na prática, não é tão simples assim. Como a concorrência no setor é muito grande, os consumidores são mais sensíveis a variações de preço, uma vez que existem várias opções. Assim, repassar custos pode diminuir a competitividade do negócio.
Pra piorar a situação… 😟
O modelo de negócio das empresas de delivery, pelo fato de ainda não serem lucrativas, é dependente de captações constantes de investimentos para promover o crescimento do negócio e fidelização dos clientes — é daí que vem o dinheiro dos cupons que você tanto adora. risos.
Pra piorar (mais um pouco) a situação, o iFood é líder absoluto no mercado brasileiro, com 70% de participação, enquanto o Uber Eats — segundo colocado — tem apenas 10%, ou seja, é muito difícil bater de frente com a startup brasileira, além dos outros concorrentes, como a colombiana Rappi.
Como se não bastasse, há ainda o WhatsApp, que recentemente passou a possibilitar a realização de pagamentos e já é responsável por 7% dos pedidos de comida por delivery — o que pode ser explicado pelo fato do app permitir contornar as taxas dos aplicativos de entrega.
Resumo da ópera
A Uber está encerrando suas operações de delivery alegando questões estratégicas. Mas, ao que parece, os motivos vão muito além de aumentar o foco no Cornershop.