Acreditei que se amasse de novo esqueceria outros
pelo menos três ou quatro rostos que amei
Num delírio de arquivística
organizei a memória em alfabetos
como quem conta carneiros e amansa
no entanto flanco aberto
não esqueço e amo em ti os outros rostos
Ana Cristina Cesar foi uma poetisa, crítica literária e tradutora brasileira. Nascida em 1952, a carioca faleceu aos 31 anos de idade, tendo uma passagem curta e intensa no cenário cultural do país.
- Marcada por uma espécie de intimidade velada, sua obra consegue expor sentimentos ocultos sem deixar o mistério de lado.
Em Contagem Regressiva, a autora usa artifícios poéticos para fazer referência a uma situação bem cotidiana: tentar superar um coração partido com um novo amor.
É bem verdade que ninguém esquece o passado trancado dentro de casa, mas será que dá pra preencher uma falta com a cópia de quem partiu?
Nessa pressa de cobrir o vazio, é comum atropelar os sentimentos, abrir mão de critérios e acabar cometendo os mesmos erros do passado.
- Em vez de repetir padrões e tentar apagar o que passou, que tal usar das suas experiências para fazer diferente no futuro?
Há quem diga que ninguém é insubstituível, mas, considerando o cheiro, os trejeitos e as manias de cada um, talvez seja impossível trocar uma pessoa de lugar com outra.
Você não esquecerá aquele perfume, porém, com o tempo, vai apreciar outras fragrâncias. Ainda que a substituição não seja certeira, uma coisa é fato: ninguém é insuperável.