A Ana e o Bruno se conheceram na Alemanha. Ele estava no país pelo Ciências sem Fronteiras, enquanto ela tinha ido cursar toda a faculdade em Portugal.
- Era um janeiro qualquer, um pub escuro e lotado como todos os outros, porém, o encontro foi diferente.
A Ana estava de saída, mas o olhar do Bruno foi suficiente pra ela resolver ficar. O Bruno estava sem dinheiro, mas o sorriso da Ana bastou pra ele gastar seus últimos euros naquele bar.
Uma cerveja depois, já estavam se beijando. Dois beijos depois, já sabiam que naquele pub escuro o acaso havia cooperado com o destino: o milagre estava instalado.
Sabendo que só teriam alguns dias juntos, a Ana e o Bruno decidiram aproveitar cada segundo, mergulhando de cabeça naquele amor de inverno com cara de verão.
Passearam pela cidade, compartilharam chocolates quentes, muitas cervejas e algumas taças de vinho. Viveram o presente, mas deixaram o futuro pra lá. Afinal, aquilo não teria futuro.
- Como dizem por aí, pra ser belo, o amor não precisa ser eterno. Precisa ser cuidado, ser recíproco, ser real.
Alguns dias depois, como prometido, a Ana foi embora. Sem levar o amor de inverno na mala, voltou pra sua faculdade em Portugal.
Pensou que a aventura tinha ficado pra trás, mas ela e o Bruno combinaram de se encontrar novamente. E de novo. E mais uma vez. E mais uma só pra ter certeza.
Cada vez que se reencontravam, aproveitavam como se fosse a última. Como nunca faziam planos para a próxima, de fato, não sabiam qual garrafa de vinho seria a da despedida.
- Na falta de planos, eles conseguiram o que muitos passam a vida inteira tentando: aproveitar o agora.
Nenhum dos dois tinha certeza do amanhã, mas tinham plena convicção daquele momento juntos. A falta de compromisso trazia uma garantia: quando se encontravam, era porque queriam.
Nessas idas e vindas, percorreram 9 cidades. Dormiram em hostel, hotel, casa um do outro, casa de outros, hall de prédio e colchão no chão. Onde desse, onde fosse.
- Em uma dessas, era Natal. O Bruno chegaria em Berlim à noite, a Ana já teria partido durante a manhã.
Ele resolveu adiantar a passagem e os dois se encontraram no metrô. Ele do lado de fora, ela do lado de dentro. Alguns segundos de frenagem e os dois sorrindo pelo vidro, só esperando a porta abrir.
A cena de filme, dessa vez, foi realmente a última. Pouco tempo depois, o Bruno voltou pro Brasil e a Ana conseguiu um emprego na Alemanha.
- Ela logo entrou em um relacionamento, ele também. Escolheram países, pessoas e caminhos diferentes, mas o carinho ficou.
Alguns anos depois, se esbarraram em São Paulo. Só pela troca de olhares, já sabiam que dividiam o mesmo pensamento — como gostaram um do outro.
Talvez ele nunca saiba disso, mas tem dias que a Ana tem vontade de mandar uma mensagem, só pra agradecer por tudo que já viveram.
Segundo ela, o Bruno tem cara de quem lê o the news durante a semana, mas não tem cara de quem lê o the stories no domingo. De qualquer forma, ela pretende mostrar que histórias felizes têm sim finais felizes.
Pra quem está pensando nos finais felizes de comédia romântica, não é disso que estamos falando. A história da Ana teve um ponto final, sem continuação — mas deixou um sentimento feliz.
Hoje, ela está em outra cidade, vivendo uma vida que nem imagina o Bruno fazendo parte. Outros amores vieram para os dois, mas eles se guardaram com carinho. E seguiram.
- Talvez algum amigo do Bruno reconheça a história e mande pra ele. Ou talvez a própria Ana resolva encaminhar o e-mail.
Ainda que ele nunca leia, ela espera que seu coração também esteja preenchido por este sentimento feliz. Mesmo mudando de rumo, a Ana agradece por ter caminhado ao lado do Bruno.